sábado, 31 de outubro de 2009

Intervenção 6_Tema 1_O Processo de Investigação_Planear uma Investigação I


Procedimentos e Boas Práticas na Planificação de uma Investigação (reflexão sobre as questões colocadas no fórum)

Numa tentativa de responder às questões colocadas pela professora, e baseando a minha opinião nas fundamentações apresentadas pelos meus colegas e por uma revisão criteriosa da literatura consultada, será possível elaborar um conjunto de procedimentos que considero essenciais na elaboração de um projecto de investigação, e que de certeza fariam parte dos possíveis conselhos que (amavelmente) prestaria a quem os pedisse.
Como ponto prévio, afirmaria que ao desenvolver um projecto de investigação social é expectável ou exigível que esse estudo se assuma como um contributo válido para uma dada área do conhecimento científico dentro do espectro das ciências sociais. Torna-se então necessário que o investigador, na elaboração da sua investigação actue seguindo os princípios do rigor metodológico. Esse rigor pode-se expressar nos seguintes parâmetros, a saber:
Um trabalho de investigação deve começar por definir claramente o problema a tratar e a sua relevância científica (deve ser escolhido um tema original nunca antes abordado ou uma abordagem nova a um assunto já estudado), os objectivos a alcançar e a metodologia ou combinação de metodologias escolhida para atingir os resultados pretendidos. No final do processo o investigador deve estar convencido (e conseguir convencer os seus pares) que a questão investigada foi devidamente tratada e foram apresentados argumentos cientificamente fundamentados. Nesse sentido poder-se-á afirmar que a formulação do problema de investigação é a base que sustenta todo o projecto. Fazendo uma analogia com o audiovisual (a minha área de formação e especialização), não existe um bom projecto cinematográfico sem uma boa ideia, uma boa história a contar. Mesmo que tudo o resto tenha qualidade, seja a planificação (sinopse, storyboard, argumento, planificação técnica, equipa de trabalho, etc.), a produção ou a pós-produção, se não existir uma boa história por detrás, o projecto final até pode funcionar como um excelente exercício de estilo, mas nunca será uma grande obra cinematográfica. O mesmo se passa numa investigação.
Traduzir um objecto de investigação sob a forma de uma pergunta de partida só será útil se essa pergunta for correctamente formulada. Se a investigação parte de um problema que se consubstancia numa pergunta operacional, logo esta deve ser precisa, inequívoca e realista, respondendo aos princípios da clareza, da exequibilidade e da pertinência. Esse seria o meu conselho em relação à 1ª questão e isso só será possível se na fase de exploração ou ruptura se fizer um correcto balanço das possíveis problemáticas extraídas das leituras, entrevistas ou outros instrumentos exploratórios, o que contribuirá, provavelmente para um novo olhar do investigador face ao problema de estudo. A problemática elabora-se progressivamente em função da dinâmica própria deste trabalho inicial de investigação que irá permitir formular os principais pontos teóricos da investigação, a pergunta que estrutura finalmente o trabalho, os conceitos fundamentais e as ideias gerais que inspirarão a análise. Tentando responder à segunda pergunta, aconselharia o meu colega a fazer uma exaustiva revisão da literatura existente sobre o assunto a ser estudado, recorrendo a bases de dados públicas de teses e dissertações, à aquisição de obras de referência e às mais recentes obras publicadas. No entanto, sabendo que este processo pode ser extremamente complexo, aconselharia o meu colega a fazer uma escolha e organização das leituras de forma muito cuidadosa e rigorosa. Sabemos que este passo pode acabar por trazer consequências desastrosas para o processo de investigação. Se o investigador consumir demasiado tempo na leitura das referências bibliográficas, poderá prejudicar de sobremaneira a cronologia temporal estimada para o seu projecto de investigação. Como deve então proceder o investigador? Quais os critérios a reter? Eu aconselharia uma leitura de obras directamente relacionadas com a pergunta de partida, não tentar ler todas as obras na sua totalidade escolhendo, numa primeira análise, reflexões de síntese ou artigos mais objectivos e de menor dimensão, procurar documentos que não se limitem a apresentar dados, mas incluam também elementos de análise e interpretação, escolher textos que apresentem abordagens diversificadas do fenómeno estudado e por fim partilhar as leituras com os outros, sejam colegas, professores, orientadores, etc. Essa partilha e discussão poderá ser essencial para libertar o investigador e dar-lhe a conhecer outras perspectivas.
Para terminar esta primeira intervenção sobre as questões colocadas pela professora, e numa tentativa de responder à 3ª questão, aconselharia o meu colega a definir correctamente o paradigma dominante em que se insere a sua investigação. Como sabemos, o paradigma influencia as metodologias utilizadas. Sabemos também que diferentes metodologias colocam diferentes exigências de recursos e tempo de investigação, produzindo diferentes resultados. Uma metodologia adequada ou combinação adequada de metodologias será aquela que permite atingir os objectivos pretendidos no tempo e com os recursos disponíveis. Nesse sentido, e sendo honesto comigo próprio e com o meu colega, dir-lhe-ia que ainda não me sinto suficientemente à vontade (apesar das exaustivas leituras e discussões sobre o tema) para poder-lhe ajudar, sem correr o risco de estar a prestar uma ajuda omissa ou incorrecta. Nesse sentido, encaminharia o meu colega para alguém mais experiente ou pedia-lhe para vir falar comigo daqui o mais algum tempo.
Em relação às restantes perguntas, e porque este texto já vai longo, voltarei mais tarde.

Pedro Coelho do Amaral

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