sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Intervenção 4_Tema 1_ O Processo de Investigação_Etapas do processo Investigativo


A análise que fiz dos diferentes fluxogramas e da leitura de diferentes recursos bibliográficos, apesar dos possíveis paradigmas e metodologias que lhe estão associados, permitiu-me retirar algumas considerações que considero como elementares e transversais no desenvolvimento de uma investigação social.
Primeiro, e como afirmam Correia e Pardal (1998,13), uma investigação social não é uma sucessão de etapas estereotipadas ou estabelecidas que se cumprem numa determinada ordem imutável. As diferentes opções tomadas, a construção e a organização dos processos varia em função da natureza e da especificidade do objecto de estudo e está directamente relacionada as idiossincrasias do próprio investigador. Esse aspecto está presente quer nos diferentes fluxogramas apresentados, quer nos resultados das leituras efectuadas a diferentes autores na área de metodologia da investigação social. Apesar da existência de um determinado grau de flexibilidade ou elasticidade nas etapas de procedimento que envolvem a construção de determinado modelo de análise social, uma investigação científica (na verdadeira acepção do conceito) está obrigada a ser fiel aos princípios do rigor metodológico, esteja esta relacionada com fenómenos físicos ou fenómenos sociais. Sendo um procedimento metodológico uma forma de progredir em direcção a um objectivo, ao ser exposto determinado procedimento cientifico está-se a descrever os princípios fundamentais que iram ser postos em prática em qualquer trabalho de investigação. Os métodos acabam por não ser mais do que formalizações particulares desse procedimento, percursos diferentes ou alternativos concebidos para estarem mais adaptados aos fenómenos ou domínios estudados. No entanto como, referem Quivy e Campenhout (1995, 13), os processos de adaptação não dispensam a fidelidade do investigador aos princípios fundamentais do procedimento científico. No fundo poder-se-á afirmar que um procedimento metodológico, apesar de ser suficientemente flexível e aberto para poder responder e abarcar diferentes linhas de investigação, deve ter presente algumas etapas transversais e de carácter obrigatório. Segundo Carlos Ceia, o principal objectivo de uma investigação cientifica avançada será, em primeiro lugar, o de identificar um problema científico relevante que não foi ainda sujeito a investigação e depois cumprir o objectivo de resolver o problema definido como ponto de partida da investigação. Segundo o mesmo autor: “Quando encontramos a solução para o problema original que definimos como base de trabalho da nossa investigação, podemos dizer que cumprimos o grande objectivo de uma investigação cientifica avançada”
Em jeito de síntese, e fazendo um apanhado geral da analise dos fluxogramas e da literatura pesquisada, é possível afirmar que a investigação parte de um problema, uma pergunta de partida operacional, precisa, única e realista, formulada com uma intenção de compreensão ou explicação da realidade do objecto de estudo. Essa pergunta, seguindo a linha de pensamento de Quivy e Campenhout (1995, 13), só fará sentido se for correctamente formulada, respondendo aos princípios da clareza, da exequibilidade, da pertinência.
A fase seguinte é designada segundo diferentes autores como exploratória. Se a investigação parte de um determinado problema (objecto de estudo) e é consubstanciado na pergunta de partida operacional, a exploração vai permitir fornecer, afinar ou moldar esse mesmo problema, através da aquisição de elementos teóricos e /ou empíricos que, ao revelar as suas dimensões essenciais e facetas particulares, sugerem caminhos e modos de abordagem. Essa exploração estabelece-se num conjunto bidireccional de métodos de trabalhos precisos que podem assumir a forma de revisão de literatura assente em critérios de escolha bem definidos, pesquisa sobre trabalhos de investigação não publicados, inquéritos/entrevistas exploratórias, observação por contacto directo com o objecto de estudo e outros métodos exploratórios complementares.
Após este período exploratório, a etapa seguinte representa o inicio de um processo de construção constituído pela aquisição de novas perspectivas, a inspiração a partir de novas abordagens, o balanço da informação recolhida estabelecendo as problemáticas possíveis e finalizando-se com a organização de uma síntese criteriosa de toda a problemática elaborada. Podemos afirmar que a problemática é a abordagem ou perspectiva teórica que o investigador decide adoptar para desenvolver uma investigação que responda ao problema formulado pela pergunta operacional de partida. A construção da problemática irá permitir construir um quadro teórico de referência que irá sustentar a investigação e fornecer-lhe a credibilidade científica indispensável. Esse quadro teórico irá permitir desenvolver um sistema conceptual em que se precisam os conceitos (construção lógica) e as definições operacionais que permitirão uma adequada formulação de hipóteses de trabalho e inclusive hipóteses adicionais. Esta fase é designada por diferentes autores como a fase de construção do modelo de análise.
As hipóteses funcionam num trabalho de investigação como um instrumento orientador da investigação que facilita a selecção de dados e a organização da sua análise através de uma correcta selecção de variáveis e definição dos respectivos indicadores, precisos, significativos e essenciais.
De seguida procede-se à observação e define-se os respectivos instrumentos que passam por delimitar o campo de observação, conceber o instrumento de observação, testar esses instrumentos e recolher os dados. Essa recolha obedece a um conjunto de procedimentos que podem necessitar de diferentes técnicas de recolha de dados.
Por fim, passa-se à fase de análise das informações observadas recorrendo a uma verificação empírica assente na administração de técnicas de recolhas de dados e análise das informações, com a descrição dos resultados e posterior comparação dos resultados observados com os resultados esperados a partir da hipótese e exame das diferenças.
A fase final do trabalho de investigação é convertida numa conclusão em que todo o procedimento é recapitulado e onde são apresentados os resultados, pondo em evidência os novos conhecimentos e as consequências práticas desse novo conhecimento.
Em jeito de síntese, e visto que o texto já vai longo, estes seriam as etapas do procedimento metodológico que considero serem transversais e essenciais aos diferentes modelos de análise social abordados.
Pedro Coelho do Amaral
QUIVY, Raymond ; VAN CAMPENHOUDT, Luc — Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva, 1998.
PARDAL, Luís; CORREIA, Eugénia — Métodos e Técnicas de Investigação Social. Porto: Areal Editores, 1995.
Ceia, Carlos - Como Fazer uma Tese de Doutoramento ou uma Dissertação de Mestrado – Curso Prático - http://www.fcsh.unl.pt/docentes/cceia/guias.htm

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