terça-feira, 27 de outubro de 2009

Intervenção 1_Tema 1_ O Processo de Investigação_Paradigmas e Métodos


O Processo de Investigação - Paradigmas I

Sendo a investigação, um processo de busca intencional, consistente, metódica e orientada, que visa dar resposta a problemas colocados pela praxis social, torna-se necessário que se oriente por linhas directoras, por modelos de referência que a sustentem e que lhe dêem um enquadramento conceptual. Como em qualquer campo da actividade intelectual, seja de natureza politica, social, cultural, artística ou outra, existem diferentes perspectivas, orientações filosóficas que mais não são do que formas distintas de abordar e perspectivar determinado objecto de estudo ou assunto. Basta pensarmos, por exemplo, nas diferentes teorias da aprendizagem e verificamos que o ângulo de visão do mesmo problema é radicalmente oposto se a abordagem se basear numa filosofia comportamental, cognitivista ou construtivistas, e mesmo dentro desses grandes troncos conceptuais existem autores ou correntes de pensamento que constroem teias de relação entre estas ou então partem à procura de novos paradigmas. O mesmo se passa no campo da metodologia da investigação, onde existem diferentes perspectivas sobre o seu processo metodológico, e que possuem na sua base orientações filosóficas radicalmente opostas mas que mesmo assim se torna complexo ou impossível estancar ou hierarquizar em modelos rígidos. Segundo Thomas Kuhn (1962) “Um paradigma é uma forma de ver o mundo aceite num dado momento por uma dada comunidade científica” . Naturalmente que os actuais paradigmas se situam num determinado tempo e espaço localizado e correspondem a avanços e recuos na forma como a sociedade, e a comunidade intelectual e cientifica em particular, olha para o conhecimento. O homem é fruto do seu tempo e se durante décadas fomos ensinados a acreditar no poder objectivo e comprovável da ciência e do método científico, a verdade é paulatinamente fomos descobrindo que o conhecimento, especialmente nas ciências humanas ou sociais não se enquadra numa perspectiva meramente matemática, objectiva e linear. A importância de conhecer profundamente os diferentes enquadramentos é portanto essencial para quem faz investigação. Essas diferentes perspectivas ou paradigmas não se limitam a definir metodologicamente os procedimentos necessários ao processo de investigação. Estas contaminam também a forma como se aborda o problema, os dados que são necessários recolher, a forma como esses dados são tratados ou processados e consequentemente as próprias conclusões da investigação.


Actualmente são três os modelos de referência (apesar de como referi não ser consensual a sua divisão ou limitação e, inclusive, a sua terminologia) e podem ser caracterizados nos seguintes termos:
» Quantitativo ( positivista, normativista, empírico-analítico, racionalista, empiricista )
» Qualitativo (Interpretativo, hermenêutico, naturalista)
» Socio-critico (ou emancipatório).

O paradigma da investigação dita quantitativa tem sido o dominante da investigação social, na qual se inclui naturalmente a educação. A epistemologia quantitativa ou positivista de Augusto Comte, para a qual "Objectividade", "meios para ser objectivo" são os conceitos chave, está na base deste paradigma. Segundo esta epistemologia, o mundo é objectivo, existe independentemente do sujeito e o investigador deve ser o mais neutro possível para não interferir na realidade. O mundo social é igual ao mundo físico: importa conhecer as relações causa-efeito. O seu objectivo é prever, explicar e controlar fenómenos. A epistemologia positivista levou ao paradigma positivista da investigação que enfatiza. Existe uma clara distinção entre o investigador “subjectivo” e o mundo exterior “objectivo”. O conhecimento assume-se como válido por resultar da aplicação do método científico. O paradigma positivista tem como fundamentos o determinismo (há uma realidade a ser conhecida), a racionalidade (não podem existir explicações contraditórias), a impessoalidade (procura a objectividade e evita a subjectividade o mais possível), a irreflexivilidade (faz depender a validade dos resultados de uma correcta aplicação dos métodos esquecendo o processo de investigação em si), a previsão (capacidade de prever e controlar os fenómenos) e a objectividade absoluta. Em linhas gerais, considera-se que existe uma realidade objectiva, laboratorialmente aplicável, que o investigador tem de ser capaz de interpretar objectivamente; cada fenómeno deverá ter uma e só uma interpretação objectiva (cientifica).
Na Epistemologia subjectivista/construtivista, o fundamento teórico baseia na fenomenologia, cuja finalidade deixa de ser a verificação como no paradigma positivista, e passa a ser a descoberta. Alicerçado no idealismo de Kant e daqueles que o sucederam, este paradigma constrói-se na crença que não existe uma única interpretação (objectiva) da realidade mas, pelo contrário, admite-se que existem tantas interpretações da realidade quanto os indivíduos (investigadores) que a procuram interpretar. O investigador e objecto são ambos e ao mesmo tempo, “intérpretes” e “construtores de sentidos”. O papel do investigador é valorizado, enquanto construtor do conhecimento, assumindo uma atitude selectiva, aproximando-se da realidade numa perspectiva holística e apoiado numa visão da realidade múltipla (em contraponto com a visão única positivista). Substitui as noções científicas de explicação, previsão e controlo (paradigma positivista) pelas de compreensão, significado e acção; O Sujeito (investigador) e objecto (sujeito) da investigação têm a característica comum de serem, ao mesmo tempo, “intérpretes” e “construtores de sentidos”. O paradigma interpretativo tem como fundamentos a compreensão, o significado, a acção e o contexto.
O paradigma Critico, parte do pressupostos da impossibilidade de um conhecimento objectivo, no qual o investigador socialmente “situado” e Ideologicamente posicionado influencia a forma de construção do conhecimento científico. Tem como fundamento teórico a Teoria Critica, cuja finalidade é a mudança. Partindo de uma visão da realidade dinâmica e interactiva, o investigador assume um papel pró-activo e participativo. Com a introdução da componente ideológica e da intenção clara de transformar o mundo rumo à liberdade e democracia, o saber é poder e não algo puramente técnico e instrumental; Cada actor social vê o mundo através da sua racionalidade cultural, política e social. O paradigma Critico tem como fundamentos a emancipação, a teoria crítica, o desejo de mudança e a libertação.
Todos os paradigmas referenciados possuem procedimentos metodológicos específicos e óbvias limitações que, pela sua extensão, serão abordados em próxima intervenção.


Pedro Coelho do Amaral

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