sábado, 31 de outubro de 2009

Intervenção 6_Tema 1_O Processo de Investigação_Planear uma Investigação I


Procedimentos e Boas Práticas na Planificação de uma Investigação (reflexão sobre as questões colocadas no fórum)

Numa tentativa de responder às questões colocadas pela professora, e baseando a minha opinião nas fundamentações apresentadas pelos meus colegas e por uma revisão criteriosa da literatura consultada, será possível elaborar um conjunto de procedimentos que considero essenciais na elaboração de um projecto de investigação, e que de certeza fariam parte dos possíveis conselhos que (amavelmente) prestaria a quem os pedisse.
Como ponto prévio, afirmaria que ao desenvolver um projecto de investigação social é expectável ou exigível que esse estudo se assuma como um contributo válido para uma dada área do conhecimento científico dentro do espectro das ciências sociais. Torna-se então necessário que o investigador, na elaboração da sua investigação actue seguindo os princípios do rigor metodológico. Esse rigor pode-se expressar nos seguintes parâmetros, a saber:
Um trabalho de investigação deve começar por definir claramente o problema a tratar e a sua relevância científica (deve ser escolhido um tema original nunca antes abordado ou uma abordagem nova a um assunto já estudado), os objectivos a alcançar e a metodologia ou combinação de metodologias escolhida para atingir os resultados pretendidos. No final do processo o investigador deve estar convencido (e conseguir convencer os seus pares) que a questão investigada foi devidamente tratada e foram apresentados argumentos cientificamente fundamentados. Nesse sentido poder-se-á afirmar que a formulação do problema de investigação é a base que sustenta todo o projecto. Fazendo uma analogia com o audiovisual (a minha área de formação e especialização), não existe um bom projecto cinematográfico sem uma boa ideia, uma boa história a contar. Mesmo que tudo o resto tenha qualidade, seja a planificação (sinopse, storyboard, argumento, planificação técnica, equipa de trabalho, etc.), a produção ou a pós-produção, se não existir uma boa história por detrás, o projecto final até pode funcionar como um excelente exercício de estilo, mas nunca será uma grande obra cinematográfica. O mesmo se passa numa investigação.
Traduzir um objecto de investigação sob a forma de uma pergunta de partida só será útil se essa pergunta for correctamente formulada. Se a investigação parte de um problema que se consubstancia numa pergunta operacional, logo esta deve ser precisa, inequívoca e realista, respondendo aos princípios da clareza, da exequibilidade e da pertinência. Esse seria o meu conselho em relação à 1ª questão e isso só será possível se na fase de exploração ou ruptura se fizer um correcto balanço das possíveis problemáticas extraídas das leituras, entrevistas ou outros instrumentos exploratórios, o que contribuirá, provavelmente para um novo olhar do investigador face ao problema de estudo. A problemática elabora-se progressivamente em função da dinâmica própria deste trabalho inicial de investigação que irá permitir formular os principais pontos teóricos da investigação, a pergunta que estrutura finalmente o trabalho, os conceitos fundamentais e as ideias gerais que inspirarão a análise. Tentando responder à segunda pergunta, aconselharia o meu colega a fazer uma exaustiva revisão da literatura existente sobre o assunto a ser estudado, recorrendo a bases de dados públicas de teses e dissertações, à aquisição de obras de referência e às mais recentes obras publicadas. No entanto, sabendo que este processo pode ser extremamente complexo, aconselharia o meu colega a fazer uma escolha e organização das leituras de forma muito cuidadosa e rigorosa. Sabemos que este passo pode acabar por trazer consequências desastrosas para o processo de investigação. Se o investigador consumir demasiado tempo na leitura das referências bibliográficas, poderá prejudicar de sobremaneira a cronologia temporal estimada para o seu projecto de investigação. Como deve então proceder o investigador? Quais os critérios a reter? Eu aconselharia uma leitura de obras directamente relacionadas com a pergunta de partida, não tentar ler todas as obras na sua totalidade escolhendo, numa primeira análise, reflexões de síntese ou artigos mais objectivos e de menor dimensão, procurar documentos que não se limitem a apresentar dados, mas incluam também elementos de análise e interpretação, escolher textos que apresentem abordagens diversificadas do fenómeno estudado e por fim partilhar as leituras com os outros, sejam colegas, professores, orientadores, etc. Essa partilha e discussão poderá ser essencial para libertar o investigador e dar-lhe a conhecer outras perspectivas.
Para terminar esta primeira intervenção sobre as questões colocadas pela professora, e numa tentativa de responder à 3ª questão, aconselharia o meu colega a definir correctamente o paradigma dominante em que se insere a sua investigação. Como sabemos, o paradigma influencia as metodologias utilizadas. Sabemos também que diferentes metodologias colocam diferentes exigências de recursos e tempo de investigação, produzindo diferentes resultados. Uma metodologia adequada ou combinação adequada de metodologias será aquela que permite atingir os objectivos pretendidos no tempo e com os recursos disponíveis. Nesse sentido, e sendo honesto comigo próprio e com o meu colega, dir-lhe-ia que ainda não me sinto suficientemente à vontade (apesar das exaustivas leituras e discussões sobre o tema) para poder-lhe ajudar, sem correr o risco de estar a prestar uma ajuda omissa ou incorrecta. Nesse sentido, encaminharia o meu colega para alguém mais experiente ou pedia-lhe para vir falar comigo daqui o mais algum tempo.
Em relação às restantes perguntas, e porque este texto já vai longo, voltarei mais tarde.

Pedro Coelho do Amaral

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Intervenção 5_Tema 1_ O Processo de Investigação_Etapas do processo Investigativo

Tentando responder à questão “Mas uma investigação em que se procede a um estudo de caso (como a da dissertação analisada) visa a generalização?”
Segundo Grawitz (1974:336-338) a valorização crescente dos estudos de caso surgiu da querela em torno do carácter nomotético ou idiográfico das ciências sociais e, num outro âmbito, da importância das metodologias quantitativa e qualitativa na investigação social.
O que isto quer dizer é que ao ser possível tornar viável o conhecimento pormenorizado de uma situação (como é o caso da dissertação analisada) por recurso a métodos com características qualitativas e quantitativas, o estudo de caso permite compreender naquele o particular na sua complexidade, ao mesmo tempo que pode abrir caminho, sob condições muito limitadas, a algumas generalizações empíricas, que Pardal e Correia (1998, 23) apontam como sendo de validade transitória.
Respondendo directamente à pergunta, um caso de estudo não visa a generalização, mas deste podem ser retirados novos conhecimentos e consequências práticas que o investigador pode sugerir como podendo ser generalizadas, mas que necessitam de posterior validação através de uma investigação mais abrangente.
Pedro Coelho do Amaral

GRAWITZ, Madeleine (1974) Méthodes dês Sciences Sociales, Paris:Dalloz
PARDAL, Luís ; CORREIA, Eugénia — Métodos e Técnicas de Investigação Social. Porto: Areal Editores, 1995.

Intervenção 4_Tema 1_ O Processo de Investigação_Etapas do processo Investigativo


A análise que fiz dos diferentes fluxogramas e da leitura de diferentes recursos bibliográficos, apesar dos possíveis paradigmas e metodologias que lhe estão associados, permitiu-me retirar algumas considerações que considero como elementares e transversais no desenvolvimento de uma investigação social.
Primeiro, e como afirmam Correia e Pardal (1998,13), uma investigação social não é uma sucessão de etapas estereotipadas ou estabelecidas que se cumprem numa determinada ordem imutável. As diferentes opções tomadas, a construção e a organização dos processos varia em função da natureza e da especificidade do objecto de estudo e está directamente relacionada as idiossincrasias do próprio investigador. Esse aspecto está presente quer nos diferentes fluxogramas apresentados, quer nos resultados das leituras efectuadas a diferentes autores na área de metodologia da investigação social. Apesar da existência de um determinado grau de flexibilidade ou elasticidade nas etapas de procedimento que envolvem a construção de determinado modelo de análise social, uma investigação científica (na verdadeira acepção do conceito) está obrigada a ser fiel aos princípios do rigor metodológico, esteja esta relacionada com fenómenos físicos ou fenómenos sociais. Sendo um procedimento metodológico uma forma de progredir em direcção a um objectivo, ao ser exposto determinado procedimento cientifico está-se a descrever os princípios fundamentais que iram ser postos em prática em qualquer trabalho de investigação. Os métodos acabam por não ser mais do que formalizações particulares desse procedimento, percursos diferentes ou alternativos concebidos para estarem mais adaptados aos fenómenos ou domínios estudados. No entanto como, referem Quivy e Campenhout (1995, 13), os processos de adaptação não dispensam a fidelidade do investigador aos princípios fundamentais do procedimento científico. No fundo poder-se-á afirmar que um procedimento metodológico, apesar de ser suficientemente flexível e aberto para poder responder e abarcar diferentes linhas de investigação, deve ter presente algumas etapas transversais e de carácter obrigatório. Segundo Carlos Ceia, o principal objectivo de uma investigação cientifica avançada será, em primeiro lugar, o de identificar um problema científico relevante que não foi ainda sujeito a investigação e depois cumprir o objectivo de resolver o problema definido como ponto de partida da investigação. Segundo o mesmo autor: “Quando encontramos a solução para o problema original que definimos como base de trabalho da nossa investigação, podemos dizer que cumprimos o grande objectivo de uma investigação cientifica avançada”
Em jeito de síntese, e fazendo um apanhado geral da analise dos fluxogramas e da literatura pesquisada, é possível afirmar que a investigação parte de um problema, uma pergunta de partida operacional, precisa, única e realista, formulada com uma intenção de compreensão ou explicação da realidade do objecto de estudo. Essa pergunta, seguindo a linha de pensamento de Quivy e Campenhout (1995, 13), só fará sentido se for correctamente formulada, respondendo aos princípios da clareza, da exequibilidade, da pertinência.
A fase seguinte é designada segundo diferentes autores como exploratória. Se a investigação parte de um determinado problema (objecto de estudo) e é consubstanciado na pergunta de partida operacional, a exploração vai permitir fornecer, afinar ou moldar esse mesmo problema, através da aquisição de elementos teóricos e /ou empíricos que, ao revelar as suas dimensões essenciais e facetas particulares, sugerem caminhos e modos de abordagem. Essa exploração estabelece-se num conjunto bidireccional de métodos de trabalhos precisos que podem assumir a forma de revisão de literatura assente em critérios de escolha bem definidos, pesquisa sobre trabalhos de investigação não publicados, inquéritos/entrevistas exploratórias, observação por contacto directo com o objecto de estudo e outros métodos exploratórios complementares.
Após este período exploratório, a etapa seguinte representa o inicio de um processo de construção constituído pela aquisição de novas perspectivas, a inspiração a partir de novas abordagens, o balanço da informação recolhida estabelecendo as problemáticas possíveis e finalizando-se com a organização de uma síntese criteriosa de toda a problemática elaborada. Podemos afirmar que a problemática é a abordagem ou perspectiva teórica que o investigador decide adoptar para desenvolver uma investigação que responda ao problema formulado pela pergunta operacional de partida. A construção da problemática irá permitir construir um quadro teórico de referência que irá sustentar a investigação e fornecer-lhe a credibilidade científica indispensável. Esse quadro teórico irá permitir desenvolver um sistema conceptual em que se precisam os conceitos (construção lógica) e as definições operacionais que permitirão uma adequada formulação de hipóteses de trabalho e inclusive hipóteses adicionais. Esta fase é designada por diferentes autores como a fase de construção do modelo de análise.
As hipóteses funcionam num trabalho de investigação como um instrumento orientador da investigação que facilita a selecção de dados e a organização da sua análise através de uma correcta selecção de variáveis e definição dos respectivos indicadores, precisos, significativos e essenciais.
De seguida procede-se à observação e define-se os respectivos instrumentos que passam por delimitar o campo de observação, conceber o instrumento de observação, testar esses instrumentos e recolher os dados. Essa recolha obedece a um conjunto de procedimentos que podem necessitar de diferentes técnicas de recolha de dados.
Por fim, passa-se à fase de análise das informações observadas recorrendo a uma verificação empírica assente na administração de técnicas de recolhas de dados e análise das informações, com a descrição dos resultados e posterior comparação dos resultados observados com os resultados esperados a partir da hipótese e exame das diferenças.
A fase final do trabalho de investigação é convertida numa conclusão em que todo o procedimento é recapitulado e onde são apresentados os resultados, pondo em evidência os novos conhecimentos e as consequências práticas desse novo conhecimento.
Em jeito de síntese, e visto que o texto já vai longo, estes seriam as etapas do procedimento metodológico que considero serem transversais e essenciais aos diferentes modelos de análise social abordados.
Pedro Coelho do Amaral
QUIVY, Raymond ; VAN CAMPENHOUDT, Luc — Manual de Investigação em Ciências Sociais. Lisboa: Gradiva, 1998.
PARDAL, Luís; CORREIA, Eugénia — Métodos e Técnicas de Investigação Social. Porto: Areal Editores, 1995.
Ceia, Carlos - Como Fazer uma Tese de Doutoramento ou uma Dissertação de Mestrado – Curso Prático - http://www.fcsh.unl.pt/docentes/cceia/guias.htm

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Intervenção 3_Tema 1_ O Processo de Investigação - Paradigmas e Métodos


O Processo de Investigação - Paradigmas e Métodos III


Respondendo ao repto do Paulo acerca da distinção entre metodologia e método, eu acrescentaria, numa altura em que ainda estamos a apalpar terreno na utilização de vocabulário específico da unidade curricular de Metodologias da Investigação, mais um termo passível de criar confusão e ser por nós utilizado de forma errada ou menos correcta. Refiro-me à distinção de ambos os conceitos entre si e em relação ao que se designa por técnicas de investigação.
Podemos afirmar que Metodologia é um termo utilizado de forma recorrente e com múltiplos sentidos. Esse facto faz com que se torne num conceito ambíguo e empregue com pouco rigor. Segundo Correia e Pardal (1995), ao ser utilizado de uma forma ligeira e corrente é associado não só à ciência que estuda os métodos científicos, como a técnicas de investigação e até mesmo a epistemologia (p. 10).
Já o método é, acima de tudo, um plano orientador do trabalho. Segundo os autores acima referidos, o método consubstancia-se, essencialmente, num conjunto de operações, situadas a diferentes níveis, que tem em vista a consecução de objectivos determinados. Ou seja, funciona como um corpo orientador da pesquisa que, ao obedecer a um sistema de normas, torna possível a selecção e articulação de técnicas, com o objectivo de se poder desenvolver o processo de verificação empírica.
Os métodos de investigação não podem no entanto ser identificados como técnicas, visto que as técnicas nunca configuram um corpo orientador de investigação, nem sequer um plano de trabalho sobre a mesma. As técnicas de investigação são somente um conjunto de instrumentos para a realização do plano de trabalho.
Pedro Coelho do Amaral
http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/msantos/tese/C4-Metodologia.pdf
QUIVY, Raymond ; VAN CAMPENHOUDT, Luc — Manual de investigação em Ciências Sociais . 2ª edição. Lisboa: Gradiva, 1998.
PARDAL, Luís ; CORREIA, Eugénia — Métodos e Técnicas de Investigação Social . Porto: Areal Editores, 1995.

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Intervenção 2_Tema 1_ O Processo de Investigação_Paradigmas e Métodos


O Processo de Investigação - Paradigmas e Métodos II
Quem nasceu Primeiro - o ovo ou a galinha?


Mantendo acesa a chama virtual, vou tentar lançar mais algumas achas na questão brilhantemente colocada pelo Paulo, na qual questiona se “… a definição do problema e das questões metodológicas é subsidiária do paradigma de investigação ou o paradigma é subsidiário da definição do problema e das questões metodológicas?
A minha opinião em relação a essa e outras questões, nas quais torna-se necessário responder de uma forma linear, objectiva e dogmática, será a de que as respostas resultantes acabam sempre por ser demasiado redutoras e simplistas.
Num primeiro momento, e de um ponto de vista racional e lógico sou levado a concordar com a Paula quando refere que “…sendo o paradigma os valores, pensamentos, visão do mundo, algo que está inculcado na mente de cada sujeito, grupo social, quando se faz um trabalho de investigação, esse paradigma está inerente a todo o processo”. Esta opinião é perfeitamente plausível e reveste-se de uma lógica inatacável, com a qual concordo (tendo, inclusive, reflectido sobre isso no post anterior). No entanto, e posicionando-me no papel de investigador, não posso considerar um erro ou porventura um acto contra natura se optasse por um paradigma distante daquele a que estou intrinsecamente vinculado, se achasse que este serviria melhor os propósitos da minha investigação. Acredito na capacidade de análise, flexibilidade e bom senso do ser humano e se é obvio que o homem constitui-se pelas teias de relação que se estabelecem entre as suas crenças, opiniões filosóficas, ideologias políticas, matrizes culturais, etc., também acredito que é perfeitamente possível ao indivíduo libertar-se dessa teia, de forma consciente ou não, e possuir a capacidade de se distanciar do seu enquadramento natural, e escolher qual o caminho que se adequa na definição do problema e questões metodológicas associadas.
Esta questão remete-me para Correia e Pardal, quando reflectem sobre a discussão em torno da suposta dicotomia entre “estudos qualitativos” e estudos quantitativos”. Segundo os autores, “Independentemente de especificidades que caracterizem mais um ou outro ponto de vista, “o quantitativo” e o qualitativo” precisam, acima de tudo, de ter em conta os mais elevados níveis de precisão e de fidedignidade e trabalhar com os dados que respondam o melhor possível às exigências do problema em estudo”(Correia e Pardal:1995, 15).

Pedro Coelho do Amaral

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Intervenção 1_Tema 1_ O Processo de Investigação_Paradigmas e Métodos


O Processo de Investigação - Paradigmas I

Sendo a investigação, um processo de busca intencional, consistente, metódica e orientada, que visa dar resposta a problemas colocados pela praxis social, torna-se necessário que se oriente por linhas directoras, por modelos de referência que a sustentem e que lhe dêem um enquadramento conceptual. Como em qualquer campo da actividade intelectual, seja de natureza politica, social, cultural, artística ou outra, existem diferentes perspectivas, orientações filosóficas que mais não são do que formas distintas de abordar e perspectivar determinado objecto de estudo ou assunto. Basta pensarmos, por exemplo, nas diferentes teorias da aprendizagem e verificamos que o ângulo de visão do mesmo problema é radicalmente oposto se a abordagem se basear numa filosofia comportamental, cognitivista ou construtivistas, e mesmo dentro desses grandes troncos conceptuais existem autores ou correntes de pensamento que constroem teias de relação entre estas ou então partem à procura de novos paradigmas. O mesmo se passa no campo da metodologia da investigação, onde existem diferentes perspectivas sobre o seu processo metodológico, e que possuem na sua base orientações filosóficas radicalmente opostas mas que mesmo assim se torna complexo ou impossível estancar ou hierarquizar em modelos rígidos. Segundo Thomas Kuhn (1962) “Um paradigma é uma forma de ver o mundo aceite num dado momento por uma dada comunidade científica” . Naturalmente que os actuais paradigmas se situam num determinado tempo e espaço localizado e correspondem a avanços e recuos na forma como a sociedade, e a comunidade intelectual e cientifica em particular, olha para o conhecimento. O homem é fruto do seu tempo e se durante décadas fomos ensinados a acreditar no poder objectivo e comprovável da ciência e do método científico, a verdade é paulatinamente fomos descobrindo que o conhecimento, especialmente nas ciências humanas ou sociais não se enquadra numa perspectiva meramente matemática, objectiva e linear. A importância de conhecer profundamente os diferentes enquadramentos é portanto essencial para quem faz investigação. Essas diferentes perspectivas ou paradigmas não se limitam a definir metodologicamente os procedimentos necessários ao processo de investigação. Estas contaminam também a forma como se aborda o problema, os dados que são necessários recolher, a forma como esses dados são tratados ou processados e consequentemente as próprias conclusões da investigação.


Actualmente são três os modelos de referência (apesar de como referi não ser consensual a sua divisão ou limitação e, inclusive, a sua terminologia) e podem ser caracterizados nos seguintes termos:
» Quantitativo ( positivista, normativista, empírico-analítico, racionalista, empiricista )
» Qualitativo (Interpretativo, hermenêutico, naturalista)
» Socio-critico (ou emancipatório).

O paradigma da investigação dita quantitativa tem sido o dominante da investigação social, na qual se inclui naturalmente a educação. A epistemologia quantitativa ou positivista de Augusto Comte, para a qual "Objectividade", "meios para ser objectivo" são os conceitos chave, está na base deste paradigma. Segundo esta epistemologia, o mundo é objectivo, existe independentemente do sujeito e o investigador deve ser o mais neutro possível para não interferir na realidade. O mundo social é igual ao mundo físico: importa conhecer as relações causa-efeito. O seu objectivo é prever, explicar e controlar fenómenos. A epistemologia positivista levou ao paradigma positivista da investigação que enfatiza. Existe uma clara distinção entre o investigador “subjectivo” e o mundo exterior “objectivo”. O conhecimento assume-se como válido por resultar da aplicação do método científico. O paradigma positivista tem como fundamentos o determinismo (há uma realidade a ser conhecida), a racionalidade (não podem existir explicações contraditórias), a impessoalidade (procura a objectividade e evita a subjectividade o mais possível), a irreflexivilidade (faz depender a validade dos resultados de uma correcta aplicação dos métodos esquecendo o processo de investigação em si), a previsão (capacidade de prever e controlar os fenómenos) e a objectividade absoluta. Em linhas gerais, considera-se que existe uma realidade objectiva, laboratorialmente aplicável, que o investigador tem de ser capaz de interpretar objectivamente; cada fenómeno deverá ter uma e só uma interpretação objectiva (cientifica).
Na Epistemologia subjectivista/construtivista, o fundamento teórico baseia na fenomenologia, cuja finalidade deixa de ser a verificação como no paradigma positivista, e passa a ser a descoberta. Alicerçado no idealismo de Kant e daqueles que o sucederam, este paradigma constrói-se na crença que não existe uma única interpretação (objectiva) da realidade mas, pelo contrário, admite-se que existem tantas interpretações da realidade quanto os indivíduos (investigadores) que a procuram interpretar. O investigador e objecto são ambos e ao mesmo tempo, “intérpretes” e “construtores de sentidos”. O papel do investigador é valorizado, enquanto construtor do conhecimento, assumindo uma atitude selectiva, aproximando-se da realidade numa perspectiva holística e apoiado numa visão da realidade múltipla (em contraponto com a visão única positivista). Substitui as noções científicas de explicação, previsão e controlo (paradigma positivista) pelas de compreensão, significado e acção; O Sujeito (investigador) e objecto (sujeito) da investigação têm a característica comum de serem, ao mesmo tempo, “intérpretes” e “construtores de sentidos”. O paradigma interpretativo tem como fundamentos a compreensão, o significado, a acção e o contexto.
O paradigma Critico, parte do pressupostos da impossibilidade de um conhecimento objectivo, no qual o investigador socialmente “situado” e Ideologicamente posicionado influencia a forma de construção do conhecimento científico. Tem como fundamento teórico a Teoria Critica, cuja finalidade é a mudança. Partindo de uma visão da realidade dinâmica e interactiva, o investigador assume um papel pró-activo e participativo. Com a introdução da componente ideológica e da intenção clara de transformar o mundo rumo à liberdade e democracia, o saber é poder e não algo puramente técnico e instrumental; Cada actor social vê o mundo através da sua racionalidade cultural, política e social. O paradigma Critico tem como fundamentos a emancipação, a teoria crítica, o desejo de mudança e a libertação.
Todos os paradigmas referenciados possuem procedimentos metodológicos específicos e óbvias limitações que, pela sua extensão, serão abordados em próxima intervenção.


Pedro Coelho do Amaral

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Paradigmas_Principais visões


Apresentação Vídeo dos Principais
Paradigmas de Investigação

Dois projectos  vídeográficos que me permitiram compreender melhor os a natureza de um paradigma e os principais posicionamentos conceptuais  na investigação social.



Pedro Coelho do Amaral

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Pesquisa 1_Tema 1_Paradigmas da Investigação_Quantitativo


Paradigmas da Investigação
(apanhado das primeiras pesquisas/leituras)

Paradigma Positivista (Quantitativo)

Alguns Pressupostos básicos:

A epistemologia positivista, para a qual "Objectividade", "meios para ser objectivo" são as palavras fortes, está na base deste paradigma. Segundo esta epistemologia, o mundo é objectivo, existe independentemente do sujeito e o investigador deve ser o mais neutro possível para não interferir na realidade. O mundo social é igual ao mundo físico: importa conhecer as relações causa-efeito. O seu objectivo é prever, explicar e controlar fenómenos.
• A epistemologia positivista levou ao paradigma positivista da investigação que enfatiza:
• O determinismo (há uma realidade a ser conhecida)
• A racionalidade (não podem existir explicações contraditórias)
• Impessoalidade (procura a objectividade e evita a subjectividade o mais possível)
• Irreflexivilidade (faz depender a validade dos resultados de uma correcta aplicação dos métodos esquecendo o processo de investigação em si).
• Previsão (capacidade de prever e controlar os fenómenos)

Alguns Procedimentos Metodológicos:

A metodologia é de cariz quantitativo e baseia-se no método dedutivo.
Os métodos de investigação próprios das ciências físicas são adaptados (procuram adaptar) às ciências sociais.
Em primeiro lugar, o investigador formula uma teoria. Dessa teoria surgem problemas e formulam-se hipóteses que resultam num conjunto de conceitos e variáveis a ela associado que não se alteram ao longo da investigação. Segue-se a recolha de dados que visa a confirmação da teoria. O papel da teoria é fundamental e muitas vezes, o objectivo central da investigação é simplesmente verificar a teoria.
No âmbito da investigação em educação, o estudo ocorre geralmente na sala de aula, simulando situações laboratoriais.

Algumas das suas Limitações:

Este paradigma perde força quando aplicado às ciências sociais, pois esbarra na impossibilidade de obter um conhecimento totalmente objectivo, uma vez que existe uma interacção entre investigador e objecto.
Não está, portanto, garantida a neutralidade da investigação. Segundo Firestone (1990:112) a realidade social não é única e é modelada por valores pessoais. A investigação num dado paradigma constitui mais uma visão do problema

Pedro Coelho do Amaral